
A serra d'Aire e Candeeiros e a aldeia de Chãos
Parque Natural das Serras de Aire e Candeeiros
O Parque Natural das Serras de Aire e Candeeiros (PNSAC) abrange o essencial do Maciço Calcário Estremenho, abrangendo territórios pertencentes aos concelhos de Alcobaça, Porto de Mós, Alcanena, Santarém, Torres Novas e Ourém.
Classificação :
As serras de Aire e Candeeiros são o mais importante repositório das formações calcárias existente em Portugal e esta é a razão primeira da sua classificação (Decreto-Lei nº 118/79, de 4 de maio) como Parque Natural. Morfologia cársica, natureza do coberto vegetal, a rede de cursos de água subterrâneos, uma fauna específica, nomeadamente cavernícola, e intensa atividade no domínio da extração da pedra são outros tantos aspetos que o diploma classificatório tenta preservar e disciplinar.
Caracterização :
Reino da pedra, eis como se poderia denominar toda a zona de relevo estremenho limitada pelas depressões de Ourém, a norte, e de Rio Maior, a sul, pelas bacias do Alviela e do Asseca a leste e oeste, por essa faixa quase plana em que se situa Alcobaça e que morre nas baixas de S. Martinho do Porto e da Lagoa de Óbidos. Vasta área que a geologia e o relevo se encarregaram de individualizar das manchas de arvoredo e da policromia dos campos de cultura espalhados em seu redor e cuja orientação, mais ou menos paralela à costa, circunscreve de forma clara o litoral.
Domínio dos calcários, que lhe conferem uma unidade profunda, o setor do Maciço Calcário Estremenho alberga distintas unidades geomorfológicas que, pelas suas características, representam um importante fator de diversidade. A ocidente estende-se a comprida serra dos Candeeiros, a leste avista-se a serra de Aire, enquanto a zona de Porto de Mós corresponde ao ponto de confluência dos vales da Mendiga e de Alvados / Mira de Aire-Minde. Entre estas duas importantes depressões situa-se o planalto de Santo António.
A secura, acentuada pela ausência de cursos de água superficiais, marca uma paisagem a que falhas, escarpas e afloramentos rochosos conferem um traço vigoroso.
A água corre através de uma intrincada rede subterrânea. A erosão cársica originou formações características - poljes, campos de lapiás, lapas e algares, uvalas e dolinas numa rara profusão de formas. As cavidades são férteis em temas espeleológicos.
O coberto vegetal é marcado pela presença de pequenas manchas de carvalho-cerquinho ou a azinheira. De entre as plantas autóctones destaca-se o cortejo das plantas aromáticas, medicinais e melíferas repartidas por algumas dezenas de espécies. A oliveira, a recordar o esforço dos cistercienses, domina a vegetação não espontânea. A fauna destes calcários inclui numerosas aves, nomeadamente a gralha-de-bico-vermelho, com hábitos de nidificação cavernícola (i.e. faz o ninho em grutas). Uma dezena de espécies de morcegos.
A presença humana é atestada desde o paleolítico. A estrada romana de Alqueidão da Serra testemunha caminhos antigos. Têxtil, curtumes, agricultura, criação intensiva de gado e indústria extrativa de pedra e argila justificam, na atualidade, a presença de numerosa população.
O símbolo do Parque Natural das Serras de Aire e Candeeiros é um morcego, representado nesta Área Protegida por dezoito espécies, animal que estabelece uma relação entre a fauna e a geologia própria das calcários, nomeadamente os espaços cavernícolas.

A aldeia de Chãos está integrada na freguesia de Alcobertas e por consequência no concelho de Rio Maior, distando desta cidade cerca de 11 quilómetros. Situa-se num planalto da vertente sul da Serra dos Candeeiros, quase no cume da serra. É uma pequena povoação com cerca de 150 habitantes que desenvolve uma agricultura de subsistência. A envolve-la estende-se um terreno acidentado coberto, na sua grande extensão, por vegetação rasteira, já que os incêndios há muito lhe roubaram as árvores.
É passeando pela aldeia que se torna possível ver os pátios antigos, onde se agrupavam casa de habitação e arrumos, palheiro, currais, casa do forno, arribana, cisterna e muitas vezes uma eira. O material usado na construção, dada a localização geográfica do núcleo populacional, sempre foi a pedra que se retirava dos campos de cultivo ou que se roubava às encostas da serra. As casas formam um núcleo rectangular, com uma abertura para a rua, normalmente fechada por um portão de madeira, que mais recentemente foi substituído pelo portão de ferro. Nas décadas de 60 e 70 a decadência da agricultura proporcionou um aumento de criação de porcos e endinheiramento de algumas famílias. As pecuárias, construídas apenas em tijolo à vista espalharam-se rapidamente pela encosta desfigurando o núcleo habitacional. Com a desvalorização da carne de porco, quase todas as explorações encerraram as portas e os edifícios encontram-se actualmente em ruínas.
Hoje, as famílias sustentam-se pelo trabalho fora da aldeia. Os homens estão empregados nas pedreiras que proliferam no coração da serra dos Candeeiros, na construção civil e nos serviços na sede de concelho. As mulheres, habitualmente a cuidar dos filhos e da casa, continuam na aldeia a fazer as lides domésticas. No entanto, nas gerações mais novas a tradicional mãe de família tem tendência a acabar. As jovens mães trabalham fora e, os filhos que não têm idade escolar, encontram-se ou no jardim infantil ou com os avós.
Na agricultura, praticada para subsistência da casa, arranjam-se os campos para a batata, o feijão e a horta ao pé da porta de casa. Bem vincada na aldeia é a produção de azeite, dada a extensão de oliveira não apenas em Chãos, mas em todo o Parque Natural.
A natureza calcária do terreno favorece há muitos anos a existência de cavidades, algares e grutas de diversas dimensões nesta zona da serra, tal como cursos de água subterrâneos. Desta forma as águas pluviais não ficam à superfície tendo que ser armazenadas em reservatórios, as velhas cisternas. Como na aldeia não existem nascentes, a água chega até às casas pela rede pública.
A localização privilegiada da aldeia oferece uma paisagem de rara beleza que se estende a perder de vista. Santarém e algumas das povoações das margens do Tejo avistam-se para sul. Mas é quando se sobe acima da aldeia, “à serra”, no lado oeste, que o olhar alcança, em dias de céu limpo, a Nazaré, S. Martinho do Porto, Peniche e, mais ao longe, as Berlengas. Nos dias mais límpidos o olhar chega à Serra da Arrábida.

A Aldeia de Chãos






